Universidade
e Sociedade
produção, a divulgação e a transmissão de
conhecimentos e formação de pessoas com consciência crítica
sobre a sociedade são, no seu conjunto, as características
principais de uma universidade. A universidade constituiu-se,
durante o último milênio, em uma instância de reflexão crítica
da sociedade e em um importante espaço de produção de
conhecimentos artísticos, técnicos e científicos e, mais
importante ainda, como um dos pilares mais significativos da
formação histórica da sociedade moderna e das gerações que se
sucederam desde o século XII.
É na sociedade que a universidade procura e
encontra, e não podia ser de outra forma, a motivação para as
suas pesquisas e investigações. De um lado, a universidade, ao
longo da sua história, produziu conhecimentos que permitiram a
transformação do habitat e uma efetiva melhoria das
condições de vida de homens e mulheres, com o desenvolvimento da
ciência e de tecnologias, da formulação filosófica e do
desenvolvimento cultural e artístico. De outro, recebe
permanentemente da sociedade novas indagações e demandas.
Esse ato de auscultar permanentemente a
sociedade não é realizado sem tensionamentos. No passado já
distante, os constrangimentos sofridos por Giordano Bruno,
Galileu Galilei e vários outros mostraram o grau que essas
tensões podem atingir. Atualmente, a aplicação de práticas
mercantis à produção e à disseminação do saber tem criado outras
tensões. É importante ressaltar que a produção de novos
conhecimentos baseia-se no conceito de liberdade criadora. Essa
necessária liberdade é a base da chamada autonomia universitária.
Na prática, pretende-se exercitar o ato de
ouvir a sociedade, desdobrando-o em várias ações. A sociedade
baiana demanda uma ação muito mais ampla de suas instituições de
ensino superior públicas federais (UFBA, UFRB, UNIVASF, CEFET,
Fiocruz, e Escolas Agrotécnicas Federais e estaduais (UNEB, UEFS,
UESC E UESB) no sentido de implantar um processo horizontal de
relacionamento visando aos
avanços das pesquisas cientifica e tecnológica, da saúde e do
desenvolvimento cultural e educacional, de forma a possibilitar
maior enfrentamento das profundas desigualdades sociais e
regionais da Bahia. Um dos aspectos de importância estratégica é
o estabelecimento de intensa articulação no planejamento e na
execução das atividades de
ensino, pesquisa e extensão. Uma das primeiras medidas para a
realização dessa articulação é a retomada e o fortalecimento do
Fórum das Universidades Públicas Baianas.
Assim, a necessária expansão das universidades públicas sediadas
no Estado, para atender as demandas da população em todo o
território baiano, a UFBA aí incluída, deve se dar de forma
articulada e não competitiva como muitas vezes acontece.
Precisamos construir um movimento conjunto para o atendimento ao
disposto no Plano Nacional de Educação (PNE) que propõe como
meta o índice de 30% de matrícula de graduação para jovens na
faixa etária de 18 a 24 anos. Meta a ser atingida até 2011, o
que equivale a enfrentar o fato de a Bahia possuir menos de 8%
na faixa etária citada freqüentando cursos de nível superior.
No campo da pesquisa e da pós-graduação,
essas ações articuladas em termos estaduais demandam o
estabelecimento de políticas integradas e integradoras para a
implantação de infra-estrutura interinstitucional e a
intensificação de formação de redes de pesquisa. Na UFBA, uma
profunda reflexão sobre o ensino de graduação deve ser realizada.
Sem abrir mão da política de financiamento do ensino de
pós-graduação e da pesquisa – ainda insuficientes – é imperativo
lutar pela implementação imediata de uma política de priorização
do ensino de graduação. A garantia de condições adequadas de
trabalho - recuperação das salas de aula, dos laboratórios
didáticos, das bibliotecas e a criação de espaços de convivência
- é essencial para a valorização do ensino de graduação e
qualquer plano de expansão deve basear-se nessa premissa.
A necessidade de aumento do número de vagas remete à
implementação de cursos noturnos nas diversas áreas do
conhecimento. Essa é uma reivindicação histórica dos setores
populares da sociedade brasileira, em particular do movimento
estudantil. Deve-se considerar, ainda, o uso de recursos de
informação e comunicação no sentido de que seja definida uma
política para cursos não presenciais, como forma de incluir de
setores da população, na perspectiva de formação continuada.
Alia-se a esses objetivos a necessidade de uma forte interação
entre os níveis formais de ensino. A atualização de professores
da rede pública, nos níveis fundamental e médio, é uma das ações
a ser retomada e ampliada. A reativação do Colégio de Aplicação
da UFBA, em um programa integrado dos vários agentes de ensino
do Estado, se insere neste contexto.