Quarta-Feira, 12 de Abril de 2006


Insegurança na Ufba ainda assusta os estudantes
Embora algumas medidas tenham sido adotadas, é consenso na comunidade universitária que situação continua grave
Camila Vieira

Resolver o problema da falta de segurança nos `campi´ é um dos maiores desafios para o próximo reitor

Resolver o problema da falta de segurança nos campi da Universidade Federal da Bahia (Ufba) é um dos maiores desafios para o próximo reitor da instituição. A situação, considerada pelos alunos como emergencial, é também reconhecida pelos candidatos como tal. Embora algumas medidas tenham sido adotadas na última gestão, muito ainda precisa ser feito para que os alunos se sintam seguros dentro das instalações. A menos de um mês das eleições, que acontecem nos dias 3 e 4 de maio, nas quais votam professores, alunos e corpo técnico administrativo, os candidatos aproveitam para fazer campanha e conquistar o eleitorado. Os concorrentes ao cargo de reitor Jailson Bittencourt de Andrade (química), Naomar Monteiro de Almeida Filho (medicina) e Nelson De Luca Pretto (educação) se reúnem, hoje, às 9h, para um debate, na Escola de Direito, na Graça. Estudantes garantem que o quesito segurança será prioridade na discussão.

No campus considerado o mais problemático _ o de São Lázaro, onde fica a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas _ não é difícil encontrar um aluno que tenha sido vítima de assalto ou pelo menos tenha um colega que passou pela situação. Ana Margarete Freitas, 23 anos, estudante do nono semestre do curso de psicologia, considera o clima de insegurança bastante grave, principalmente, por que no campus não existe portaria. "Aqui entra e sai qualquer pessoa. Podemos estar na sala de aula ao lado de um ladrão e nem saber", disse. Ela contou que uma colega foi roubada dentro da classe. "O cara sentou como se fosse assistir à aula, chegou perto dela e pediu tudo. Ela foi obrigada a dar e ninguém percebeu. Só depois que bateu o intervalo foi que ficamos sabendo", contou a estudante, acrescentando que dois colegas já tiveram os carros roubados dentro do estacionamento.

Na opinião da estudante, a criação de uma portaria e a atuação de seguranças dentro do campus já ajudariam bastante a resolver o problema. "Precisamos de pessoas circulando aqui para nos sentirmos um pouco mais seguros", reforçou Ana, lembrando que os funcionários que trabalham na segurança do patrimônio não têm o dever de proteger os alunos. "Eles são pagos para cuidar dos bens e não das pessoas", reforçou. A colega Bruna Araújo, 23 anos, foi assaltada na Sabino Silva, na subida que dá acesso ao campus. "Levaram minha bolsa e celular. Todo dia tem assalto nesse lugar", afirmou. A estudante sugere a atuação mais forte da Polícia Militar na região. "É preciso que a PM circule nesses pontos considerados mais perigosos. Recusamos a polícia aqui dentro, mas não significa que não possam atuar nas redondezas", declarou.

Em São Lázaro, estudantes adotaram a prática de nunca andar sozinho dentro do campus. Estão sempre em grupo, principalmente, quando vão assistir aula em outro campus e precisam se deslocar. Iramaia Evangelhista, 19 anos, estudante do quarto semestre de psicologia, foi assaltada dentro do campus. "É fato que não existe a menor segurança aqui dentro. Isso é uma realidade velha", falou. Segundo a estudante, é impossível ficar no local depois das 18h. "Além de não ter vigias, falta iluminação. Fica uma escuridão, todo mundo tem medo. Os professores são obrigados a acabar as aulas uma hora mais cedo", contou.

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Candidatos apresentam projetos

Em abril, a campanha para reitor e vice-reitor teve início. As chapas são compostas pelos seguintes candidatos aos cargos de reitor e vice-reitor, respectivamente: Jailson Bittencourt de Andrade (química) e Evelina de Carvalho Sá Hoisel (letras); Naomar Monteiro de Almeida Filho (medicina)e Francisco José Gomes Mesquita (geociências); e Nelson De Luca Pretto (educação) e Dirceu Martins (química). Enquanto a data da eleição não chega, os candidatos aproveitam a campanha para apresentar seus planos de gestão, inclusive os projetos na área de segurança.

Os candidatos das três chapas estão disputando o comando de uma instituição que conta atualmente com 19.945 alunos e 3.252 funcionários divididos em três campi na capital. Para o professor titular do Instituto de Química, Jailson Andrade, embora a situação tenha melhorado nos últimos dois anos, ainda tem muito para ser feito. No plano de gestão do candidato existe o projeto de ampliação da guarda de segurança e do sistema de observação, além da melhoria do espaço físico e o aumento de cursos noturnos. Na opinião dele, não adianta apenas investir na mão-de-obra, é preciso também melhorar as instalações.

"É preciso uma atenção especial para o paisagismo, principalmente, no campus de Ondina. Se a vegetação cresce e não é cuidada, termina se tornando um esconderijo perfeito para os bandidos", disse Andrade. Ele faz questão de acrescentar que a ampliação de cursos e atividades culturais para o turno da noite também vai ajudar a coibir a violência. "Nos espaços desertos é bem mais fácil agir. Mas, se houver movimento de gente fica mais difícil", concluiu.

Na opinião do candidato, Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação, a falta de segurança é o problema mais grave da universidade, assim como é também para toda sociedade. "Não podemos simplificar essa questão. Em 2000, presidi uma Comissão de Segurança que elaborou vários projetos, a curto, médio e longo prazo, mas poucos foram encaminhados", assinalou. Pretto fez questão de destacar que não é a favor de dispositivos de isolamento como a construção de muros que isolem a universidade da sociedade. "Precisamos de elementos de demarcação mais claros como planejamento das ações de segurança, otimização dos agentes com rondas permanentes, específicas e registradas e integração das ações por meio de comunicação, a exemplo do rádio", explicou.

Ainda fazem parte do projeto do candidato o plano integrado de portaria e segurança externa, a implantação de vigilância eletrônica (desde que o alunado permita), e uma relação harmoniosa com a Polícia Militar para que a corporação possa atuar, mais intensamente, nas áreas que cercam os campi.

O atual reitor, Naomar Almeida, que está de férias e está sendo substituído pelo seu vice, José Francisco Mesquita, não foi encontrado pela equipe de reportagem, que tentou fazer contato durante todo o dia e não obteve sucesso. A assessoria da Ufba e o vice-reitor foram contactados, mas não conseguiram intermediar a ligação com o reitor Naomar Almeida.

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Cinqüenta homens fazem a vigilância

Questionado sobre a falta de segurança, o prefeito dos campi da Ufba, Luís Sérgio Marinho, explicou que estratégias têm sido elaboradas, de forma que há dois meses não são registradas ocorrências de assaltos. Dentre as medidas, está a criação de 114 pontos de vigilância com 50 homens espalhados pelos campi. Para este semestre, mais quatro câmeras foram instaladas, somando agora 19. O próximo passo é começar o projeto para que todos os veículos que entrem sejam identificados por meio de cartões de acesso, como acontece hoje nos shopping centers. "Estamos elaborando o projeto", completou Marinho, ao comentar que o campus de Ondina servirá como plano piloto.

Ele acredita que a segurança é um problema que já está sendo solucionado. "Há três anos tínhamos muito mais ocorrências, agora conseguimos reduzir esse número", garante. De acordo com Sérgio, foi montado um plano emergencial de segurança, em parceria com os bancos, que possibilitou a compra de carros, bicicletas e motos para o policiamento que é realizado dentro dos campi. O orçamento da Ufba no ano passado foi de R$496 milhões, sendo que 68 milhões foram captados de outros agentes financiadores. O déficit foi de 1,6%, sendo que em 2002 este número chegou a 7,2%. Ano passado, dos R$496 milhões, 47% foi destinado à segurança.