Insegurança na Ufba ainda assusta os
estudantes
Embora algumas
medidas tenham sido adotadas, é consenso na comunidade
universitária que situação continua grave
Camila
Vieira
Resolver o problema da falta de segurança nos
`campi´ é um dos maiores desafios para o próximo reitor
Resolver o problema da falta de segurança nos
campi da Universidade Federal da Bahia (Ufba) é um dos maiores
desafios para o próximo reitor da instituição. A situação,
considerada pelos alunos como emergencial, é também
reconhecida pelos candidatos como tal. Embora algumas medidas
tenham sido adotadas na última gestão, muito ainda precisa ser
feito para que os alunos se sintam seguros dentro das
instalações. A menos de um mês das eleições, que acontecem nos
dias 3 e 4 de maio, nas quais votam professores, alunos e
corpo técnico administrativo, os candidatos aproveitam para
fazer campanha e conquistar o eleitorado. Os concorrentes ao
cargo de reitor Jailson Bittencourt de Andrade (química),
Naomar Monteiro de Almeida Filho (medicina) e Nelson De Luca
Pretto (educação) se reúnem, hoje, às 9h, para um debate, na
Escola de Direito, na Graça. Estudantes garantem que o quesito
segurança será prioridade na discussão.
No campus considerado o mais problemático _ o
de São Lázaro, onde fica a Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas _ não é difícil encontrar um aluno que tenha sido
vítima de assalto ou pelo menos tenha um colega que passou
pela situação. Ana Margarete Freitas, 23 anos, estudante do
nono semestre do curso de psicologia, considera o clima de
insegurança bastante grave, principalmente, por que no campus
não existe portaria. "Aqui entra e sai qualquer pessoa.
Podemos estar na sala de aula ao lado de um ladrão e nem
saber", disse. Ela contou que uma colega foi roubada dentro da
classe. "O cara sentou como se fosse assistir à aula, chegou
perto dela e pediu tudo. Ela foi obrigada a dar e ninguém
percebeu. Só depois que bateu o intervalo foi que ficamos
sabendo", contou a estudante, acrescentando que dois colegas
já tiveram os carros roubados dentro do estacionamento.
Na opinião da estudante, a criação de uma
portaria e a atuação de seguranças dentro do campus já
ajudariam bastante a resolver o problema. "Precisamos de
pessoas circulando aqui para nos sentirmos um pouco mais
seguros", reforçou Ana, lembrando que os funcionários que
trabalham na segurança do patrimônio não têm o dever de
proteger os alunos. "Eles são pagos para cuidar dos bens e não
das pessoas", reforçou. A colega Bruna Araújo, 23 anos, foi
assaltada na Sabino Silva, na subida que dá acesso ao campus.
"Levaram minha bolsa e celular. Todo dia tem assalto nesse
lugar", afirmou. A estudante sugere a atuação mais forte da
Polícia Militar na região. "É preciso que a PM circule nesses
pontos considerados mais perigosos. Recusamos a polícia aqui
dentro, mas não significa que não possam atuar nas
redondezas", declarou.
Em São Lázaro, estudantes adotaram a prática de
nunca andar sozinho dentro do campus. Estão sempre em grupo,
principalmente, quando vão assistir aula em outro campus e
precisam se deslocar. Iramaia Evangelhista, 19 anos, estudante
do quarto semestre de psicologia, foi assaltada dentro do
campus. "É fato que não existe a menor segurança aqui dentro.
Isso é uma realidade velha", falou. Segundo a estudante, é
impossível ficar no local depois das 18h. "Além de não ter
vigias, falta iluminação. Fica uma escuridão, todo mundo tem
medo. Os professores são obrigados a acabar as aulas uma hora
mais cedo", contou.
***
Candidatos apresentam projetos
Em abril, a campanha para reitor e vice-reitor
teve início. As chapas são compostas pelos seguintes
candidatos aos cargos de reitor e vice-reitor,
respectivamente: Jailson Bittencourt de Andrade (química) e
Evelina de Carvalho Sá Hoisel (letras); Naomar Monteiro de
Almeida Filho (medicina)e Francisco José Gomes Mesquita
(geociências); e Nelson De Luca Pretto (educação) e Dirceu
Martins (química). Enquanto a data da eleição não chega, os
candidatos aproveitam a campanha para apresentar seus planos
de gestão, inclusive os projetos na área de segurança.
Os candidatos das três chapas estão disputando
o comando de uma instituição que conta atualmente com 19.945
alunos e 3.252 funcionários divididos em três campi na
capital. Para o professor titular do Instituto de Química,
Jailson Andrade, embora a situação tenha melhorado nos últimos
dois anos, ainda tem muito para ser feito. No plano de gestão
do candidato existe o projeto de ampliação da guarda de
segurança e do sistema de observação, além da melhoria do
espaço físico e o aumento de cursos noturnos. Na opinião dele,
não adianta apenas investir na mão-de-obra, é preciso também
melhorar as instalações.
"É preciso uma atenção especial para o
paisagismo, principalmente, no campus de Ondina. Se a
vegetação cresce e não é cuidada, termina se tornando um
esconderijo perfeito para os bandidos", disse Andrade. Ele faz
questão de acrescentar que a ampliação de cursos e atividades
culturais para o turno da noite também vai ajudar a coibir a
violência. "Nos espaços desertos é bem mais fácil agir. Mas,
se houver movimento de gente fica mais difícil", concluiu.
Na opinião do candidato, Nelson Pretto, diretor
da Faculdade de Educação, a falta de segurança é o problema
mais grave da universidade, assim como é também para toda
sociedade. "Não podemos simplificar essa questão. Em 2000,
presidi uma Comissão de Segurança que elaborou vários
projetos, a curto, médio e longo prazo, mas poucos foram
encaminhados", assinalou. Pretto fez questão de destacar que
não é a favor de dispositivos de isolamento como a construção
de muros que isolem a universidade da sociedade. "Precisamos
de elementos de demarcação mais claros como planejamento das
ações de segurança, otimização dos agentes com rondas
permanentes, específicas e registradas e integração das ações
por meio de comunicação, a exemplo do rádio", explicou.
Ainda fazem parte do projeto do candidato o
plano integrado de portaria e segurança externa, a implantação
de vigilância eletrônica (desde que o alunado permita), e uma
relação harmoniosa com a Polícia Militar para que a corporação
possa atuar, mais intensamente, nas áreas que cercam os
campi.
O atual reitor, Naomar Almeida, que está de
férias e está sendo substituído pelo seu vice, José Francisco
Mesquita, não foi encontrado pela equipe de reportagem, que
tentou fazer contato durante todo o dia e não obteve sucesso.
A assessoria da Ufba e o vice-reitor foram contactados, mas
não conseguiram intermediar a ligação com o reitor Naomar
Almeida.
***
Cinqüenta homens fazem a vigilância
Questionado sobre a falta de segurança, o
prefeito dos campi da Ufba, Luís Sérgio Marinho, explicou que
estratégias têm sido elaboradas, de forma que há dois meses
não são registradas ocorrências de assaltos. Dentre as
medidas, está a criação de 114 pontos de vigilância com 50
homens espalhados pelos campi. Para este semestre, mais quatro
câmeras foram instaladas, somando agora 19. O próximo passo é
começar o projeto para que todos os veículos que entrem sejam
identificados por meio de cartões de acesso, como acontece
hoje nos shopping centers. "Estamos elaborando o projeto",
completou Marinho, ao comentar que o campus de Ondina servirá
como plano piloto.
Ele acredita que a segurança é um problema que
já está sendo solucionado. "Há três anos tínhamos muito mais
ocorrências, agora conseguimos reduzir esse número", garante.
De acordo com Sérgio, foi montado um plano emergencial de
segurança, em parceria com os bancos, que possibilitou a
compra de carros, bicicletas e motos para o policiamento que é
realizado dentro dos campi. O orçamento da Ufba no ano passado
foi de R$496 milhões, sendo que 68 milhões foram captados de
outros agentes financiadores. O déficit foi de 1,6%, sendo que
em 2002 este número chegou a 7,2%. Ano passado, dos R$496
milhões, 47% foi destinado à segurança.
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