Artigo
O futuro da Ufba
Nelson Pretto
diretor da
Faculdade de Educação da Ufba -
www.unidiversidade.ufba.br
Universidade Federal da
Bahia, como acontece a cada quatro anos, entra em processo de
escolha da sua nova administração superior. Este é um momento
que, de certa forma, envolve a muitos, tanto em Salvador quanto
em toda a Bahia. Em passado bem recente, a escolha de um reitor
ocorria com a chancela dos dirigentes máximos da política local,
que assim exerciam influência direta nos destinos da única
instituição pública federal no Estado àquela época.
A luta pela indicação do novo reitor passava por todos os
gabinetes fora da Ufba e era decidida em Brasília à revelia da
comunidade universitária que, mesmo não se deixando silenciar,
protestando até onde podia, não revertia esta situação. Isso
mudou! Felizmente hoje, o procedimento é mais democrático –
embora ainda problemático –, a nova administração é escolhida
pela comunidade constituída pelos docentes, servidores
técnico-administrativos e estudantes.
Avançamos, sem dúvida, mas falta muito para termos um processo,
de fato, representativo da vontade do coletivo da universidade.
Precisamos buscar e implementar a eleição plena dos dirigentes
máximos desta instituição a partir do seu próprio interior, o
que, necessariamente, implica em ações mais radicais, a exemplo
da paridade de votos nas três categorias citadas; isso porque é
especial a natureza desta instituição secular denominada
universidade.
Além da responsabilidade de produzir conhecimentos e divulgar
culturas – e não somente ela, é bem verdade! –, a universidade
se constitui como um dos elementos-chave da produção da crítica
na sociedade. Sua autonomia é, portanto, não apenas importante,
mas fundamental. A universidade e sua administração superior não
podem, a ponto de comprometer a sua autonomia, estar vinculada a
governos ou ao mercado, que insiste em querer transformar tudo
em mercadoria, inclusive a educação.
As propostas dos postulantes aos cargos de reitor e de vice-reitor
estão postas na Ufba. Entretanto, desta vez, vivemos o processo
eletivo marcado por uma particularidade: há pouca discussão e
pouco espaço para a apresentação das propostas que efetivamente
diferenciam as três chapas concorrentes. Mesmo com essas
dificuldades que comprometem o processo democrático, anunciamos
à comunidade da Bahia a nossa candidatura e a do professor
Dirceu Martins à Reitoria e vice-Reitoria da Universidade
Federal da Bahia.
Por uma questão de princípio, nosso movimento busca valorizar a
Ufba e a sociedade baiana, através da instalação de um processo
que abra espaço e dê voz aos diversos segmentos da nossa
sociedade, de todas as partes do Estado, a partir de um
fortalecimento do ensino, da pesquisa e da extensão, tendo a
cultura e a educação como forças motrizes.
A universidade vive e sobrevive produzindo conhecimentos e
saberes, apesar dos governos de plantão na própria universidade
e no País. Felizmente é assim, o que reforça a importância de
sua autonomia plena! Basta lembrar que durante os tempos duros
da ditadura militar, quando fomos severamente perseguidos, muito
vasta foi a sua produção e exemplar a formação de tantos
profissionais, resultando na resistência àquele regime e efetiva
colaboração no processo de redemocratização do País.
Para fazer jus à sua história de produção, lutas e resistências,
um plano de gestão para a Ufba deve contemplar, basicamente,
princípios que garantam a atuação de diversas unidades, setores
e grupos para que possam, de forma democrática, atuar e propor
aos conselhos superiores – estes fortalecidos! – os passos e as
possibilidades futuras de ação. Cabe à administração central
catalizar tais processos, viabilizando o andamento dos projetos
existentes, estimulando e provocando o surgimento de tantos
outros, que terão de ser, prioritariamente, conduzidos pelas
unidades e pelos docentes e não pela administração central.
Queremos, desde já, abrir um caminho de diálogo entre as demais
universidades públicas de nosso Estado. Fica feito o convite
para, a partir de agora, pensarmos em um plano
interinstitucional para que o ensino, a pesquisa e a extensão
universitárias, em nosso Estado, possam ser realizados de forma
complementar e articulada entre Uesb, Uesc, Ufes, Uneb, Cefet,
UFRB, Univasf, Fiocruz, escolas agrotécnicas federais e a Ufba.
Tal proposta visa à modificação radical da lamentável situação
educacional da Bahia. Temos menos de 8% da população de 18 a 24
anos cursando o ensino superior.
A Ufba, pelos seus 60 anos, tem a responsabilidade de,
humildemente, pautada no presente e vislumbrando o futuro,
colocar-se à disposição das outras instituições para a produção
coletiva das tão necessárias mudanças educacionais que o nosso
povo espera.
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